O que foi o Teatro Experimental do Negro (TEN)?

Conheça um pouco da história do Teatro Experimental do Negro

tempo estimado de leitura: 4 min

Em 14 de março de 1914, Franca, interior de São Paulo, se preparava para receber Abdias Nascimento, um dos maiores pensadores do Brasil. Professor, militante, artista, ator, essas são algumas denominações desse importante intelectual, que atuou significativamente no plano cultural e social brasileiro. Dentre seus diversos feitos, Abdias Nascimento foi responsável pela idealização do Teatro Experimental do Negro. 

E o que foi o Teatro Experimental do Negro (TEN)?

O Teatro Experimental do Negro foi uma companhia teatral fundada por Abdias Nascimento em 1944, no Rio de Janeiro.  Sua fundação concentrava o desejo de valorizar e abrir novos caminhos para pessoas negras nas artes-cênicas e na sociedade brasileira. 

Segundo Abdias Nascimento, em seu textoTeatro experimental do negro: trajetória e reflexões”, o TEN ia além do campo do teatro, ele tinha a proposta de “trabalhar pela valorização social do negro no Brasil, através da educação, da cultura e da arte”. Relacionando cultura e sociedade de forma intrínseca, a companhia buscou integrantes de diferentes camadas sociais, além de oferecer cursos de alfabetização, cultura e conscientização racial para a comunidade. 

Após o processo de recrutamento e preparação dos artistas, o TEN trabalhou com o Teatro do Estudante do Brasil (TEB), na peça Palmares, de Stella Leonardos. Já em 1945, decide promover a primeira encenação própria da companhia e, sem encontrar na dramaturgia brasileira obras que refletissem o propósito do TEN, encenou “O Imperador Jones”, peça do norte-americano Eugene O’Neill. O texto concentrava temas considerados importantes para os propósitos da companhia, uma vez que incitava reflexões críticas sobre a situação do negro na sociedade pós-escravatura. O’Neill cedeu os direitos da peça para o TEN, que, após intensa preparação, estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com direção de Abdias Nascimento e protagonizado por Aguinaldo Camargo. 

Repercussões 

Após a encenação de “O Imperador Jones”, o Teatro Experimental Negro criou outros espetáculos a partir das obras de O’Neill e outros clássicos, enquanto incentivou a criação de uma dramaturgia brasileira que captasse a realidade afro-brasileira com complexidade e humanidade. 

Por 17 anos, a companhia trabalhou com textos brasileiros e estrangeiros, trazendo reflexões sociais significativas, com atores e personagens negros para além de estereótipos e pré-concepções. Dentre os atores e atrizes formados pelo TEN, estão  Ruth de Souza, Haroldo Costa, Léa Garcia e José Maria Monteiro. 

No campo social e político, ainda em 1945, o TEN realiza a Convenção Nacional do Negro, e cinco anos depois, cria o  1º Congresso do Negro Brasileiro.  Inserido na luta antirracista, o grupo influencia a proposição da primeira legislação voltada para reprimir o racismo, a Lei Afonso Arinos. 

Dentre outras atividades importantes da companhia, também houve a realização de um concurso de beleza para pessoas negras, outro concurso de artes plásticas com  a temática do “Cristo Negro” e, em 1955, a criação da Semana do Negro. Entre 1948 e 1950, surge ainda o jornal Quilombo, que trabalhou pela conscientização e pela valorização do negro nos diferentes setores da sociedade. O jornal apoiou diferentes grupos e movimentos negros e teve também a colaboração de intelectuais brasileiros como Gilberto Freire, Guerreiro Ramos e Artur Ramos. 

A trajetória do TEN tornou-se um incentivo para a criação de outras companhias por ex-participantes do TEN, como o Grupo Novos, em 1949, fundado por Haroldo Costa, transformado depois no Balé Brasiliana; o Teatro Popular Brasileiro, fundado em 1950 por Solano Trindade; e o Balé Folclórico Mercedes Baptista, de 1953, criado pela própria coreografa Mercedes Baptista. 

O Teatro Experimental Negro, dentre tantas coisas, foi um processo de incetivo a autovalorização e crescimento do afro-brasileiro na nossa sociedade e, apesar de ser pouco lembrado nos dias atuais, tem um valor indispensável para história cultural e social brasileira.

Reviva o Teatro Experimental Negro. Celebre a essência brasileira!

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Referências:

TEATRO Experimental do Negro (TEN). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo399330/teatro-experimental-do-negro>.

NASCIMENTO, Abdias do. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões. Estudos Avançados. São Paulo, USP, vol.18, n.50, jan.-br. 2004. pp. 209-224. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100019 >

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