Conheça a artista Moara Ibirapitanga

Moara Tupinambá (@moaratupinamba) é artista visual, curadora, ativista e atua em projetos de desenvolvimento de comunicações gráficas para projetos indígenas. Além disso, também é pesquisadora sobre a cultura indígena na Amazônia, especificamente a Tupinambá, suas resistências e retomadas. Trabalha com curadorias de artes visuais voltadas para os povos originários e racializados em contexto urbano. Confira nossa conversa!

Para começo de conversa, você pode nos explicar de onde vem seu nome e contar sobre seu povo?

Meu nome é Moara e foi um nome dado por minha madrinha. É um nome Tupi Antigo que significa “aquele que dá à luz”, “ajuda a nascer”. Eu carrego também os nomes dos colonizadores: Brasil, Xavier e da Silva, mas uso o nome Tupinambá, um nome que honra a minha origem, da minha família materna, resquício e memória deles. Também fui consagrada pela Cacique Bras Tupinambá que conheceu a minha história e me abraçou num momento de consagração junto a várias lideranças antigas ali no Tapajós, onde também faço parte de uma associação chamada Wyka Kwara.

Reprodução: Instagram

Como foi o seu começo na arte e o que te inspirava/inspira?

Meu começo de arte se dá desde o momento em que eu tive que largar o curso de Direito que fazia numa universidade particular lá em Belém do Pará. Eu não conseguia passar nas universidades federais, nem tentei cota, mas fui chamada para uma universidade particular que meus pais conseguiram arcar até o segundo ano. Nesse ponto, tive uma ideia com a minha amiga Lorena Sirino de abrir um brechó de customização de roupas. Lorena vinha com as ideias de criação, desconstrução e construção de novas peças, dar outro sentido para roupa e eu contava com a minha habilidade para desenho e pintura. Essa então foi minha primeira experimentação com pintura em tecido, estamparia, bordados, técnicas manuais.

Como você chegou nessa linguagem artística e se deu sua construção como artista?

Minhas inspirações sempre foram, por mais que as peças fossem customizadas, a cultura local. Depois, segui com a uma marca minha sozinha, a Moara Brasil, e aí comecei a trazer muitos aspectos da cultura amazônida, brinquedos de miriti das florestas, da música, das pessoas e tudo isso fez parte da minha inspiração nesse começo na arte. Quando me mudei para São Paulo, fui para as artes visuais plásticas, desenho em plataformas de canva, tecido, papel e não mais com roupa. A partir, continuei me inspirando nas minhas origens, ancestralidade, na minha família e memórias das famílias que já não estão mais aqui, mulheres benzedeiras, anciãs, pajés, atuantes, sacacas. Tudo isso é minha inspiração.

Reprodução: Instagram

Como mulher e artista, quais diálogos você quer abrir e mensagens que quer passar para quem acompanha?

Enquanto mulher artista e indígena, eu quero mostrar para as novas gerações indígenas que é possível chegar no lugar em que estou, apesar de ter sido e ainda ser bem difícil. Podemos trilhar esse caminho, acessar lugares que nunca acessamos e podemos fazer parte da história da arte da qual a gente nunca foi citado. Acho que meu trabalho é representatividade da mulher indígena, da tupinambá, na história da arte e que as novas gerações se espelhem.

Reprodução: Instagram

Onde você quer chegar com sua arte?

Essa pergunta é meio difícil. A arte faz muito sentido na minha vida, pois ela abre diversos portais para lugares que a gente não consegue tocar e nem acessar, como, por exemplo, numa fala ou contexto ativista. Pela arte eu consigo comunicar com o coração, então eu quero continuar atingindo isso: corações de quem vê com a arte. Uma vez no coração, consigo transformar com minha mensagem.

Arapuru: Para você, os brasileiros sabem valorizar a arte?

Eu acho que os brasileiros gostam muito de arte, valorizam muito a arte, mas ela ainda está em lugares muito inacessíveis como museus e galerias. O povo brasileiro, simples e humilde, gosta de arte e da cultura e não é à toa que temos festas regionais em diversos cantos do Brasil, características locais da cultura, que, aliás, têm muita influência indígena, afrodescendentes, então esse povo mais diverso gosta sim de arte. O que falta é o acesso maior e democratização, pois os pobres também precisam consumir, aprender a desenhar, pintar um mural. Acho que, além de contribuir com a saúde mental, ajuda na economia criativa que temos muito forte nesse país.

Arapuru: Conta pra gente um pouco sobre o Museu da Silva e outros projetos que você está envolvida?

O Museu da Silva foi uma pesquisa investigativa iniciada em 2019 sobre a origem da genealogia da minha própria família. O processo tem sido uma busca, retorno à terra e resgate das minhas origens. O museu são fragmentos que vou coletando, nas memórias, gravações de uma oralidade do pai, mãe, avô e avô, dos amigos que moram na comunidade que ainda existem lá em Cucurunã (comunidade inspiração para o Museu da Silva). Eu vou destrinchando esses fios da memória da minha família e revelando também que houve um grande etnocídio, pois não consigo encontrar essa etnia tão exigida pelos antropólogos e Estado. Passamos por lugares de apagamento para reconstrução, de auto entendimento como comunidade Cucurunã e partir para novas ações de união, força, coletividade, conexão com a terra e natureza desses lugares em que essas pessoas moram.

Estou envolvida em muitos projetos, mas vou falar mais da minha parte artística. Agora tenho uma residência de artes no Rio de janeiro e no próximo semestre em São Paulo. Esses dois momentos são pesquisas mais profundas em artes e criação, sobre a minha memória Tupinambá e sobre o Museu da Silva também, pois investigo o lado da minha mãe e do meu pai. Agora vou para um mais lado prático, visual e não só pesquisa de fotografia, imagem e documento. Também estou envolvida na curadoria de um festival que vai acontecer em setembro no Centro Cultural em São Paulo de artesanato pelo Arte Sol. 

Arapuru: Para fechar, pode nos indicar trabalhos de outros artistas que você acompanha?

Claro!

Sallisa Rosa (@sallisarosa)

Reprodução: Instagram

Janau (@janau___)

Reprodução: Instagram

Gê Viana (@indiiloru)

Reprodução: Instagram

Denilson Baniwa (@denilsonbaniwa)

Reprodução: Instagram

Gustavo Caboco (@gustavo.caboco)

Reprodução: Instagram

Julie Dorrico (@dorricojulie)

Reprodução: Instagram

Emerson Uyra   (@uyrasodoma)

Reprodução: Instagram

Conheça mais sobre Moara aqui e, caso queira adquirir um de seus trabalhos, vá à loja por aqui ou em sua página no Instagram!

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