Lettering e brasilidade: uma entrevista com o artista Filipe Grimaldi

 

Conheça Filipe Grimaldi, o artista que usa o Brasil como inspiração para o lettering

tempo estimando de leitura: 6 min

Filipe Grimaldi é artista visual e designer gráfico, responsável pela direção do Atelier Sinlogo, uma das maiores referências em pintura de letra popular do Brasil. Paulistano, Filipe leva uma trajetória profissional sem fronteiras, mesclando variados elementos da cultura popular brasileira, muita pesquisa e um olhar criativo para a criação de letras. 

Além de ministrar cursos em diferentes regiões, Grimaldi tem trabalhos em muros, fachadas e placas, que rodam pelo Brasil com sua produção artística.

Hoje, ele também desenvolve a comunicação visual do Arapuru, articulando sua experiência e visão para construir um projeto com os diversos aspectos da nossa brasilidade. Em entrevista, Filipe conta sobre sua trajetória, processo e inspirações. Confira abaixo e conheça mais sobre esse artista brasileiro: 

Você se formou, inicialmente, em desenho industrial, mas hoje seu trabalho vai muito além desse campo. Pode nos contar um pouco da sua trajetória?

Eu me formei em design gráfico na Belas Artes em SP em 2005, de lá pra cá trabalhei 10 anos como designer fazendo grandes identidades visuais e campanhas com ilustração e animação (pelo estúdio de criação SINLOGO). Há 8 anos comecei em paralelo estudos de caligrafia e pintura de letra, a partir daí, me tornei um artista visual com alguns campos de atuação. Hoje, mesclo trabalhos digitais com trabalhos analógicos e atuo individualmente.

Quais são os artistas que influenciaram ou mudaram sua trajetória de maneira significativa?

Eu cresci profissionalmente rodeado pela cena do graffiti em SP nos anos 2000. Naquela época, existiam artistas emergentes desse núcleo para as artes plásticas e galerias, pessoas como Speto, Denis Cisma, Francisco Nunca, Herbert Baglione, Felipe Yung e outros. Quando já estava nas letras, Lucca Barcellona, Chaz Bojorques, artistas e letristas populares como Luiz Junior e Carga Maxima.

Como é seu processo de criação? Você tem alguma rotina?

Eu sou freelancer há 15 anos. Todos os dias eu acordo e produzo uma lista infinita de ações e tarefas que percorrem desde burocracia a grandes momentos de criação, em conjunto com a criação da minha filha. Meu processo não é mapeável, pode começar varrendo o quintal e terminar numa madrugada.

Na sua obra, você utiliza diferentes elementos do lettering popular brasileiro, como a arte das carrocerias de caminhão, pode contar um pouco sobre isso? 

Já como artista, iniciei uma pesquisa de estilos de letras pintados manualmente e comecei a levantar um inventário iconográfico dos nossos símbolos vernaculares (carroceria de caminhão, embarcações amazônicas e caiçaras). Isso foi feito através de fotos de muitos contatos que estabeleci em toda América Latina e viajando. Há 2 anos, mapeei estes alfabetos para que outros letristas pudessem reproduzi-los, mantendo a cultura popular brasileira em evidência.

Acreditei que, nesse sentido, eu, enquanto artista privilegiado, poderia resgatar não só a profissão de letrista, como alguns alfabetos brasileiros, integrando eles a criação de obras de arte e projetos de design gráfico.

Existem inspirações em outros campos da cultura que você traz para sua arte? Como música, dança e outros aspectos?

A cultura popular de onde busco meu trabalho é um aglomerado de campos culturais. Fora a música, a dança, o teatro, temos a capacitação profissional de artesões e suas técnicas regionais como o barro, as rendas, a tapeçaria etc.

Todos estes aspectos são mapeáveis e estão espalhados por todo o Brasil, variando os campos culturais através de suas regiões.

Você é designer gráfico e artista visual, como você enxerga esses pontos de contato no seu trabalho?

Designer atende um briefing, uma necessidade, Artista cria pesquisa histórica e estética, não depende de briefing. Poder atender um briefing artisticamente não é pra muita gente, talvez esse seja o segredo do designer-artista.

Seu trabalho também envolve criação de murais e placas, que se espalham pela cidade.  Como você enxerga a intervenção urbana dentro da sua obra?

Pintar em grande formato é um momento para qualquer artista, sempre vai haver o instante em que sua produção precisa de um suporte maior. Estar dentro da cidade permite um diálogo da obra com o público, cabe ao artista saber conversar com aquilo que vive ali diariamente, e saber fazer isso é muito importante para a obra “ser boa” ou “ficar bonita”.

No campo institucional da arte, existem muitos estigmas sobre o que é e o que deixa de ser arte, como você enxerga essa discussão para a letragem? 

Por muito tempo a tipografia, as letras e a caligrafia tiveram pouco espaço na arte, de uns 10 anos para cá uma legião de artistas de lettering ou com influência disso surgiram varrendo grande parte dos ilustradores que ocupavam este lugar. Existe pouca pesquisa sobre as letras, principalmente a pesquisa científica e histórica, cabe a nós agora escrever esse capítulo.

Você também atua na área de ensino, ministrando cursos de pintura e caligrafia. Como tem sido para você esse processo de lecionar?

Eu ensino há 6 anos, já dei centenas de aulas em SESCs por todo o Brasil e em faculdades, experimentei todo tipo de público. Ensinar não é para todo mundo, criar uma didática, seguir ela sendo criativo e enérgico, ter uma aula boa e com conteúdo requer grande parte do meu tempo. O resultado é visível em poucos anos de aula, muitos profissionais atuando no mercado e, para mim, sabedoria acumulada.

Pensando um pouco sobre seu trabalho com Arapuru, você pode contar um pouco como foi seu envolvimento com o processo criativo?

Eu fui chamado basicamente para resgatar as brasilidades da marca e tentar aplicar isso esteticamente. Como designer gráfico, eu propus um redesenho do logotipo (adequando as letras brasileiras) e extensão/criação de elementos com que a marca pudesse se comunicar.

Determinei e fiz tudo que era necessário ser criado para dar apoio a uma marca em crescimento. Hoje, depois de alguns meses, criamos cores corporativas, uma nova fonte de apoio à marca, elementos em xilogravura, textura de aquarela, elementos botânicos e dezenas de arquivos que dão apoio a todas as aplicações e futuros desdobramentos.

Você falou um pouco sobre “resgatar as brasilidades”. Onde você enxerga a essência brasileira no Arapuru? Qual sua identificação com a marca?

O Arapuru Gin é composto por botânicos das 5 regiões do país, a cultura da produção desses botânicos acaba sendo relacionada com os costumes de cada região, seu folclore e suas linguagens. Sou um pesquisador dessa área, do inventário popular brasileiro e isso acaba tendo relação direta com a marca que bebe dessa fonte de inspiração.Tenho uma identificação estética com a marca, as brasilidades que ela acessa e acaba incorporando para ela. É, também, fruto do meu trabalho autoral e comercial. Achei que eu, enquanto profissional, poderia somar muito com a identidade visual da marca, por isso estou aqui.

Fotografias: Felipe Gabriel / Filipe Grimaldi

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