Entrevista com Renan Quevedo, criador do Novos para Nós

A plataforma Arapuru Apoia foi pensada para somar na divulgação de projetos independentes que impactam na cultura brasileira.  Pensando nisso, trouxemos uma entrevista com o Renan Quevedo, curador e fundador do Novos Para Nós

Renan é apaixonado por arte e foi essa paixão que o deslocou do emprego de publicitário para essa jornada pelo país, que serviu de base para novas descobertas. O projeto Novos Para Nós nasceu em 2017, com o objetivo de buscar e dar visibilidade a artistas populares brasileiros.

Com essa proposta, Renan Quevedo percorreu mais de 100 mil quilômetros pelo Brasil, procurando e conhecendo artesãos nos cinco cantos do país. Do seu trabalho surgiram exposições, palestras e mais de 300 histórias de artistas da cultura popular brasileira. 

Hoje, o pesquisador continua a catalogar a arte popular brasileira e criou diversas pontes para artistas populares e suas obras. Conheça um pouco da história inspiradora de Renan Quevedo, que mudou sua própria vida em prol da arte brasileira: 

Você se formou  em publicidade, mas no caminho se apaixonou pela arte. Como surgiu a ideia de pegar o carro e conhecer os artistas brasileiros?

Comecei a investigar despretensiosamente o mundo da arte popular depois de ter visto uma exposição sobre o tema em São Paulo. A pulguinha me pegou e, aos poucos, conciliando com a carreira como diretor de arte, fui visitar alguns artistas nos finais de semana, férias ou feriados. 

Entendi que tínhamos inúmeros artesãos por todas as regiões brasileiras com pouca visibilidade e, depois de muito ensaiar, pedi demissão do meu emprego, entrei em um carro e comecei o Novos Para Nós. Até hoje são mais de 100 mil quilômetros percorridos e centenas de artistas catalogados através das redes sociais do projeto. Uma jornada e tanto!

Como você foi achando esses artistas? Pode nos contar uma história que foi marcante na sua jornada?

O processo de encontrar artesãos pelo Brasil começa com pesquisas pela internet, jornais e redes sociais. Uma vez que estou na estrada, essa pesquisa é complementada com o famoso boca a boca. 

Um dos principais nomes que ilustram esse processo é o Jasson, artesão alagoano que encontrei após muito perguntar em postos de gasolina, feira-livre, mercadinhos, ambulantes e, é claro, me perder bastante! Valeu cada quilômetro rodado.

Você viajou pelo Brasil procurando esses artistas, como você observou as mudanças de tradição entre as regiões que passou?

Entendemos a arte popular como um complexo sistema de símbolos de identidade permeado pelo inconsciente, a coletividade, tradições, manifestações, entre outros aspectos. Ela se materializa nas mais diversas formas – original, rústica, polida, ousada – e o suporte utilizado é o encontrado pelos arredores – madeira, barro, metal e fios naturais. Essa combinação de fatores abre um enorme leque de possibilidades de gestos e expressões por todos os lados. 

Como você entende a importância de buscar esses artistas?

Entendo que essas pessoas fazem a manutenção do alicerce cultural de todas as nossas regiões. Estar em contato com estas centenas de nomes e ter a chance de aprender in loco suas técnicas, processos e conceitos é entender não somente os aspectos individuais do artesão. 

Mas descobrir mais sobre aquele local específico – as tradições, a economia, a sociedade, as dificuldades, os sonhos – e, de quebra, descubro um pouco mais sobre quem eu sou, quem você, leitor, é e sobre quem todos nós somos.

Na sua opinião, existe uma desvalorização da arte popular no Brasil?

Prefiro acreditar que ela ainda não foi “descoberta”. Em muitos casos, ela é distanciada do cotidiano das pessoas e acaba tendo um espaço limitado na agenda da mídia, das instituições culturais e da casa de cada um (talvez aqui ela até faça parte, mas fica reservada à varanda, à cozinha, à casa de campo ou à praia). Há muito para descobrirmos e, quando isso é feito, o sentimento de orgulho é inevitável. 

No campo institucional da arte, existem muitos estigmas sobre o que é ou não arte, como o Novos Para Nós quebra essas barreiras?

É importante perceber que, nos últimos tempos, as instituições têm revisto seus esforços no que diz respeito à inclusão da arte popular em seus acervos e programação. Sinto que há muito a ser feito em relação à percepção da sociedade sobre as artes em geral. 

Para que todos possamos ter ferramentas para opinar, primeiro precisamos fazer uma imersão no contexto artístico e é aqui, no meu ponto de vista, que falhamos. É necessário oferecermos possibilidades para este contato e a forma como consumimos.

Qual é o papel do Novos Para Nós no apoio dos artistas populares?

O Novos Para Nós busca trazer visibilidade à produção dos nossos artistas populares. Eu, Renan, enquanto pesquisador, entendo meu trabalho como uma ponte entre os artesãos que encontro pela estrada e quem tem interesse de conhecê-los. 

Para isso, faço uso da conectividade oferecida pelas redes sociais. Presencialmente, organizo exposições e sou convidado a ecoar este conhecimento em palestras por todo o Brasil. 

Como você enxerga o futuro do projeto Novos Para Nós? Onde você gostaria de chegar com ele?

O meu objetivo é de (re)apresentar essa produção para as pessoas. Não consigo fazer com que elas valorizem – isso é algo extremamente pessoal de cada um. Já fico extremamente feliz em ter começado, de poder percorrer o Brasil, ter encontrado tanta gente boa que me dá a certeza de que a arte popular brasileira é o nosso maior tesouro. Espero ver o dia que as pessoas tenham a mesma certeza.

Como você percebe as relações entre o papel do Novos Para Nós e do Arapuru Apoia?

Nos encontramos no que diz respeito ao incentivo das inúmeras expressões culturais como motor de transformação e inclusão. É ótimo saber que temos companhia em projetos que acreditamos tanto – não só porque somos criadores, mas porque são traços de valores essenciais para o nosso cotidiano.

Em 2020, você foi curador da exposição “Tudo que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular” na Central Galeria. Como você enxerga a importância de mostrar as vozes destas artistas? Como foi esse processo para você?

A exposição reuniu o trabalho de quatro mulheres pertencentes a um território, geração, espaço e repertório específico da chamada arte popular. Fizemos questão que elas falassem por elas mesmas. 

Participar deste processo foi extremamente enriquecedor ao ser convidado por elas a entrar em temas que são, a princípio, particulares (mas certamente de interesses universais), como a dicotomia entre passado e futuro, sustentabilidade, conflitos amorosos, acontecimentos históricos, desilusões, entre tantos outros. 

Atualmente você também ministra palestras e seminários, como a educação entrou no seu trabalho?

Uma das partes que eu mais gosto (além de dirigir, pesquisar, entrevistar, escrever, fotografar e todo o resto) é poder dividir o que encontro por todos os cantos do país.

Adoro receber convites para conversar com pessoas de todas as idades sobre a arte popular brasileira, nossos artistas, as histórias de vida e de produção. 

Foi algo espontâneo, que eu realmente não imaginava, mas que hoje é um dos braços mais importantes do Novos Para Nós.

Gostou de conhecer o trabalho do Novos para Nós? Confira outros projetos na nossa plataforma Arapuru Apoia!

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